quarta-feira, 26 de setembro de 2012

"Adeus, Lula"




A presença constante no noticiário de Luís Inácio Lula da Silva impõe a discussão sobre o papel que deveriam desempenhar os ex-presidentes. A democracia brasileira é muito jovem. Ainda não sabemos o que fazer institucionalmente com um ex-presidente. Dos quatros que estão vivos, somente um não tem participação política mais ativa. O ideal seria que após o mandato cada um fosse cuidar do seu legado. Também poderia fazer parte do Conselho da República, que foi criado pela Constituição de 1988, mas que foi abandonado pelos governos — e, por estranho que pareça, sem que ninguém reclamasse.

Exercer tão alto cargo é o ápice da carreira de qualquer brasileiro. Continuar na arena política diminui a sua importância histórica — mesmo sabendo que alguns têm estatura bem diminuta, como José Ribamar da Costa, vulgo José Sarney, ou Fernando Collor. No caso de Lula, o que chama a atenção é que ele não deseja simplesmente estar participando da política, o que já seria ruim. Não. Ele quer ser o dirigente máximo, uma espécie de guia genial dos povos do século XXI. É um misto de Moisés e Stalin, sem que tenhamos nenhum Mar Vermelho para atravessar e muito menos vivamos sob um regime totalitário.

As reuniões nestes quase dois anos com a presidente Dilma Rousseff são, no mínimo, constrangedoras. Lula fez questão de publicizar ao máximo todos os encontros. É um claro sinal de interferência. E Dilma? Aceita passivamente o jugo do seu criador. Os últimos acontecimentos envolvendo as eleições municipais e o julgamento do mensalão reforçam a tese de que o PT criou a presidência dupla: um, fica no Palácio do Planalto para despachar o expediente e cuidar da máquina administrativa, funções que Dilma já desempenhava quando era responsável pela Casa Civil; outro, permanece em São Bernardo do Campo, onde passa os dias dedicado ao que gosta, às articulações políticas, e agindo como se ainda estivesse no pleno gozo do cargo de presidente da República.

Lula ainda não percebeu que a presença constante no cotidiano político está, rapidamente, desgastando o seu capital político. Até seus aliados já estão cansados. Deve ser duro ter de achar graça das mesmas metáforas, das piadas chulas, dos exemplos grotescos, da fala desconexa. A cada dia o seu auditório é menor. Os comícios de São Paulo, Salvador, São Bernardo e Santo André, somados, não reuniram mais que 6 mil pessoas. Foram demonstrações inequívocas de que ele não mais arrebata multidões. E, em especial, o comício de Salvador é bem ilustrativo. Foram arrebanhadas — como gado — algumas centenas de espectadores para demonstrar apoio. Ninguém estava interessado em ouvi-lo. A indiferença era evidente. Os “militantes” estavam com fome, queriam comer o lanche que ganharam e receber os 25 reais de remuneração para assistir o ato — uma espécie de bolsa-comício, mais uma criação do PT. Foi patético.

O ex-presidente deveria parar de usar a coação para impor a sua vontade. É feio. Não faça isso. Veja que não pegou bem coagir: 1. Cinco partidos para assinar uma nota defendendo-o das acusações de Marcos Valério; 2. A presidente para que fizesse uma nota oficial somente para defendê-lo de um simples artigo de jornal; 3. Ministros do STF antes do início do julgamento do mensalão. Só porque os nomeou? O senhor não sabe que quem os nomeou não foi o senhor, mas o presidente da República? O senhor já leu a Constituição?

O ex-presidente não quer admitir que seu tempo já passou. Não reconhece que, como tudo na vida, o encanto acabou. O cansaço é geral. O que ele fala, não mais se realiza. Perdeu os poderes que acreditava serem mágicos e não produto de uma sociedade despolitizada, invertebrada e de um fugaz crescimento econômico. Claro que, para uma pessoa como Lula, com um ego inflado durante décadas por pretensos intelectuais, que o transformaram no primeiro em tudo (primeiro autêntico líder operário, líder do primeiro partido de trabalhadores etc, etc), não deve ser nada fácil cair na real. Mas, como diria um velho locutor esportivo, “não adianta chorar”. Agora suas palavras são recebidas com desdém e um sorriso irônico.

Lula foi, recentemente, chamado de deus pela então senadora Marta Suplicy. Nem na ditadura do Estado Novo alguém teve a ousadia de dizer que Getúlio Vargas era um deus. É desta forma que agem os aduladores do ex-presidente. E ele deve adorar, não? Reforça o desprezo que sempre nutriu pela política. Pois, se é deus, para que fazer política? Neste caso, com o perdão da ousadia, se ele é deus não poderia saber das frequentes reuniões, no quarto andar do Palácio do Planalto, entre José Dirceu e Marcos Valério?

Mas, falando sério, o tempo urge, ex-presidente. Note: “ex-presidente”. Dê um tempo. Volte para São Bernardo e cumpra o que tinha prometido fazer e não fez. Lembra? O senhor disse que não via a hora de voltar para casa, descansar e organizar no domingo um churrasco reunindo os amigos. Faça isso. Deixe de se meter em questões que não são afeitas a um ex-presidente. Dê um bom exemplo. Pense em cuidar do seu legado, que, infelizmente para o senhor, deverá ficar maculado para sempre pelo mensalão. E lá, do alto do seu apartamento de cobertura, na Avenida Prestes Maia, poderá observar a sede do Sindicato dos Metalúrgicos, onde sua história teve início. E, se o senhor me permitir um conselho, comece a fazer um balanço sincero da sua vida política. Esqueça os bajuladores. Coloque de lado a empáfia, a soberba. Pense em um encontro com a verdade. Fará bem ao senhor e ao Brasil.


Blog do Noblat - O Globo

Artigo: "Adeus, Lula". Por Marco Antonio Villa

terça-feira, 25 de setembro de 2012

Lula corre do fiasco e larga Humberto Costa pendurado na brocha. Que feio! Petista em queda faz Apedeuta rever ida a Recife

reprodução - web


Além de cair para terceiro lugar nas pesquisas, em que foi ultrapassado anteontem pelo candidato do PSDB, Daniel Coelho, o candidato do PT à prefeitura do Recife, senador Humberto Costa, foi informado ontem de que não está garantida a presença, em seus comícios, do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para ajudá-lo a tentar reverter a situação.
O senador petista, que no início da disputa liderava folgadamente com cerca de 40% das intenções de voto, apareceu anteontem, em novos números do Ibope, com apenas 15%, enquanto o tucano Coelho agora tem 24%. Bem à frente dos dois, o atual líder da corrida, Geraldo Júlio (PSB), continua subindo sem parar: segundo o Ibope, ele saltou de 33% para 39%. Em quarto vem o candidato Mendonça Filho (DEM), com 4%.
Encomendada pela TV Globo e pela Folha de Pernambuco, a pesquisa ouviu 1.106 eleitores e foi registrada no Tribunal Regional Eleitoral (TRE-PE) sob o número 00139/2012. A margem de erro é de três pontos porcentuais para mais ou para menos.
reprodução - web
Um dos responsáveis diretos pelo lançamento de Humberto Costa na briga pela prefeitura recifense, Lula está muito concentrado, segundo sua assessoria, nas campanha de São Paulo e de cidades do ABC. Além disso, há no partido quem considere que sua presença no Recife, defendendo diretamente um rival do candidato do governador Eduardo Campos (PSB), poderia atrapalhar o acordo fechado com este, de uma política de não agressão entre as duas legendas.
É por isso que a ida de Lula à capital pernambucana, embora não descartada, é considerada por seus assessores como pouco provável. Contribui para isso, ainda, a apertada agenda de compromissos do ex-presidente nesta reta final da campanha.  No sábado, por exemplo, Lula participará de dois comícios do candidato petista em São Paulo, Fernando Haddad, ambas na zona leste da capital, às 17h e às 19 h.
(…)
Angela Lacerda e João Domingos - Estadão e Reinaldo Azevedo - Veja

População de Recife diz “não” às ordens de Lula e submete Humberto Costa a uma humilhação

reprodução - web

É um vexame verdadeiramente histórico! Os petistas de Recife, com o apoio de Lula, deram um chega pra lá na candidatura à reeleição do prefeito João da Costa. O petista foi humilhado pelos seus pares. Venceu a convenção, mas não levou. O governador Eduardo Campos (PSB) aproveitou a confusão petista, rompeu a aliança e lançou seu próprio candidato, Geraldo Júlio, que largou com apenas 4% das intenções de voto. O PT desistiu da pretensão inicial, Maurício Rands, e apostou no senador Humberto Costa, um medalhão do partido e um dos homens que ajudaram a desestabilizar o atual prefeito — que faz uma gestão reprovada pela maioria dos recifenses. Lula assumiu a candidatura de Humberto: “Deixa comigo! Vou lá, faço e aconteço”.
Para demonstrar que a luta era para valer, João Paulo, ex-prefeito da cidade, entrou como vice na chapa do PT. Lula, com a bazófia habitual, chegou a afirmar para seus interlocutores que iria fazer um braço de ferro na cidade com o governador para ver quem levava a melhor. É claro que ele achava que seria ele.
Pois bem:  A 13 dias da eleição, Júlio, o candidato do governador, está, segundo o Ibope divulgado ontem, com 39% das intenções de voto. O tucano Daniel Coelho ultrapassou Humberto Costa e aparece com 24%. Humberto, o petista de Lula e Dilma, que tinha 29% na largada, está  agora com 16%.
Entendam o que aconteceu: Lula mandou a população de Recife votar no candidato que ele tinha no bolso, e, por enquanto, 39% escolheram Júlio, e 24% ficaram com Coelho. Mendonça Filho, do DEM, está com 4%. A derrota, além de histórica, será também vexaminosa. A campanha do senador abusa das imagens de Lula e Dilma e insiste naquela cascata de que tudo o que há de bom no Brasil é obra do PT. Não está dando certo.
No momento mais comovente de uma das muitas falas estúpidas de Lula, ouvimos: “Democracia é a gente comer de manhã, de tarde e de noite”. É? Conclui-se, assim, que nenhum ambiente é mais democrático do que as granjas de engorda de galinhas e porcos, não é mesmo? Com orgulho, a campanha petista informa que, só em Recife, 130 mil famílias estão no Bolsa Família, como se isso fosse coisa da qual uma cidade deva se orgulhar.
A população de Recife está dizendo “não” às ordens de Lula. Tudo indica que o candidato de Campos vai disputar o segundo turno com o Coelho, do PSDB. A única saída de Humberto será apoiar Geraldo Júlio, depois de ter tentado anular a sua candidatura na Justiça. É uma humilhação.
Reinaldo Azevedo - Veja