quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

Pela primeira vez, um navio brasileiro será comandado por duas mulheres


CONTROLE Vanessa e Hildelene no petroleiro Rômulo Almeida. Calma em situações tensas  (Foto: Berg Silva/ÉPOCA)

Todos os olhares do estaleiro estavam voltados para ela. Aqui e ali, Hildelene entreouvia comentários jocosos em inglês. Não era nada comum uma mulher dando ordens a homens fortões num país majoritariamente muçulmano como o Bahrein, no Golfo Pérsico. A cena ficou pior aos olhos estrangeiros porque a mulher tinha apenas 1,50 metro de altura, fala mansa e exercia o segundo cargo mais importante dentro de um navio, o de imediato. Para contornar a situação, Hildelene Lobato Bahia, então com 35 anos, fez o que já estava acostumada a fazer: impôs respeito. Empertigou-se, aumentou sutilmente o tom da voz e, firme, mostrou que sabia o que estava fazendo. “Quando viram que eu era qualificada, me aceitaram”, diz ela sobre o episódio de quatro anos atrás, durante atracação para reparos no navio.

 Hildelene se tornou a primeira comandante mulher da Marinha Mercante no Brasil em 2009, a bordo do navio Carangola. Agora, aos 39 anos, o desafio será assumir o comando do petroleiro Rômulo Almeida, da Transpetro, que partirá no dia 17. Na empreitada, será auxiliada por outra mulher, Vanessa Cunha, de 30 anos, que fará as vezes de imediata. Será a primeira vez que um navio brasileiro terá duas mulheres no comando.

Hildelene é paraense. Vanessa, carioca. Ambas são casadas com homens do mar – que de vez em quando viajam junto para que suas amadas matem as saudades.

A temporada no mar é longa. O time fica embarcado 90 dias. Os turnos são de 12 horas, período em que Hildelene e Vanessa se alternarão na chefia. O esquema muda se a situação for tensa – em ocasiões de risco, elas terão de atuar juntas. Há cinco anos, Vanessa enfrentou um incêndio na praça de máquinas de um navio. “Uns gritavam, outros tentavam apagar o fogo de qualquer jeito. Fico mais calma em situações tensas”, diz Vanessa. “Acordei no dia seguinte com o corpo doendo de tanto carregar extintores.”

À medida que o rótulo de desbravadoras perde a força, o que se evidencia na relação mulher-chefe e homens-subordinados são diferenças sutis no dia a dia. “Com imediatos homens eles não se queixam. Comigo, reclamam que estão doentes, que isso, que aquilo, só falta pedir colo”, afirma Vanessa, dando uma risada. Raimundo Gomes Pereira, chefe de máquinas do Rômulo Almeida, equilibra a cúpula feminina. “Nunca tive problemas com mulheres na Marinha”, afirma Raimundo, de 54 anos, dos quais 30 no mar.

MARINA NAVARRO LINS - Época

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