segunda-feira, 18 de março de 2013

Reforma eleitoreira


Dilma Rousseff (PT) confia muito no próprio taco e, por isso, não se esmera muito em formar uma boa equipe. Pessoalmente, ela só aparece nos bons momentos. Ao contrário do antecessor Luiz Inácio Lula da Silva (PT), não é afeita a polêmicas e, ao tratar de forma implacável os próprios subordinados, aparece bem para a opinião pública. Já o primeiro escalão da Esplanada dos Ministérios é de uma inexpressividade desoladora. Dos nomes com trajetória mais relevante pouquinha coisa, raros inspiram na população o sentimento de que seriam os mais adequados a tocar áreas estratégicas. Na metade final de seu mandato, a confiança da presidente na própria capacidade de conduzir os subordinados não tem sido suficiente para fazer a roda da administração girar. Até que por essa estratégia o Brasil tem hoje a impressão de possuir uma boa presidente, mas com uma administração de resultados bem fraquinhos até agora. Tanto que talvez o grande momento do governo Dilma tenha sido a chamada “faxina”, na qual demitiu sete dos auxiliares que ela própria indicara. O lado ruim foi que, à parte interrogações éticas, quem entrou não tinha muito mais credenciais que aqueles que saíram.

A presidente começou ontem a fechar sua reforma ministerial. O governo não vai bem, mas sua prioridade absoluta é resolver o problema político – que talvez vá ainda pior. Aumentou o quinhão do PMDB, principal aliado, mas que tem ajudado a fazer da presidente um saco de pancadas no Congresso Nacional. Seja em questões menores, como na rebelião contra recondução de diretor da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) - com único objetivo de expor a insatisfação ao Palácio do Planalto - ou em momentos-chave, como na derrota do governo na aprovação do novo Código Florestal. Na única linguagem que tem sido eficiente para os presidentes desde Fernando Henrique para negociar com os peemedebistas, Dilma lhes deu mais cargos, inclusive com o remanejamento do ministro Moreira Franco, que não disse a que veio na pasta de Assuntos Estratégicos, mas foi promovido para a área de Aviação Civil. Tratou de acomodar também a parcela mineira no partido, em pagamento pelo apoio na eleição municipal em Belo Horizonte. Na qual, aliás, o candidato petista saiu derrotado, o que contribuiu para deixar a fatura mais salgada. Também para conter a insatisfação do PDT, que ameaçava sair da base, a presidente mexeu no Trabalho. O PSD é outro que será agraciado, mas mais à frente .

As trocas têm efeito unicamente político, mas não contribuem um milímetro para aumentar a eficiência administrativa. Dilma se move de olho na sua reeleição e parece não se preocupar em melhorar seu governo. Como se ignorasse que o melhor cabo eleitoral que pode ter são os resultados da própria gestão. Mas, sai ministro, entra ministro, não se tem perspectiva de melhora no que não está nada bem.

UM LEGADO DE IMPROVISOS, GAMBIARRAS E PUXADINHOS MAL-AJAMBRADOS
O caso da aviação civil é particularmente emblemático. O setor está em crise há anos, que vêm sendo resolvidas com “jeitinhos”. A Copa das Confederações, em junho, seguida da Jornada Mundial da Juventude, em julho, inicia o período que deve ser o de maior demanda da história da rede de aeroportos do País, culminando nas Olimpíadas de 2016. Em termos de infraestrutura para o Mundial, o setor está folgadamente entre os mais críticos. Dilma troca o comando da Aviação Civil a três meses do primeiro desses eventos e a menos de um ano e meio da Copa do Mundo. Ela coloca Moreira Franco na vaga de Wagner Bittencourt, que não era da cota de nenhum partido – demonstração inequívoca que inoperância não pede ficha de filiação. Ele é engenheiro, funcionário de carreira do BNDES e com passagem pela superintendência da Sudene. Na pasta que comanda, as obras em aeroportos deveriam estar a pleno vapor. Mas a realidade dos terminais brasileiros é de terra arrasada. Qualquer feriado prolongado transforma as salas de embarque do Brasil em uma barafunda. Nesse cenário, a perspectiva para os megaeventos é de transformação dos aeroportos em sucursais das trevas. Ainda que o novo ministro mostre-se operante de modo que não demonstrou em seu cargo anterior, o que dá tempo de fazer é um remendo. O que se esperava da Copa do Mundo – que fosse usada para transformar a infraestrutura do País e renovar a rede de transportes – simplesmente não tem tempo para acontecer. O que se dará é o mesmo que acabará ocorrendo nas obras locais: gambiarras, improvisos, remendos. Uma mão de cal para evitar que o desastre seja completo. O legado será provavelmente a maior junção de puxadinhos que o País já conheceu. Será servido caldo de osso de anteontem. Mas o preço é de carne de primeira.

Érico Firmo-OPovo

Nenhum comentário:

Postar um comentário